quinta-feira, 24 de junho de 2010

Alerta: Votorantim na capital nacional da baleia franca

Ana Echevenguá

Nunca vou esquecer de uma palestra proferida pelo doutor Walmor Alves Moreira, procurador do Ministério Público Federal de Santa Catarina, na qual ele disse que a incúria, o despreparo e a ignorância dos prefeitos e vereadores são os maiores responsáveis pela degradação ambiental.

A cada dia, esta verdade se comprova!

Imbituba-SC – a capital nacional da baleia franca - vai receber uma fábrica da Votorantim, que produzirá 1,2 milhões de toneladas/ano de cimento. Com as bênçãos do governador, prefeito, vereadores, ... O circo está completo: alteraram o plano diretor do município; o protocolo de benesses à fábrica foi assinado pelo governador1.

Mas acho que poucos moradores da região sabem o que os espera com a construção dessa ‘Moagem Imbituba’. Pelo nome, parece que se trata de uma indústria de moagem (misturador) que produzirá matéria-prima para a fabricação de cimento em outras cidades da região sul.

Será que não irão produzir o cimento propriamente dito?

Tenho cá minhas dúvidas! A gente precisa saber o que vai acontecer dentro das 4 paredes da Votorantim. Alguém sabe se existe jazidas de calcáreo na região de Imbituba? Essa gente não é burra: só será economicamente viável moer calcáreo se houver uma jazida próxima para otimizar o transporte, não é?

O processo de produção de cimento consiste em moer o calcáreo, misturá-lo com argila, queimá-lo no forno e, finalmente, moer tudo isso até virar cimento.

E aí está o grande problema: os fornos das cimenteiras são, hoje, grandes incineradoras de lixo industrial. Com licença do governo porque se trata de ‘co-processamento’, uma das tantas mentiras verdes do desenvolvimento sustentável. Quem não acredita, pode fazer uma busca no ‘google’.

Rio de Janeiro e Paraná reclamam que São Paulo exporta seu lixo industrial pras cimenteiras que albergam.

E aí, o lixo é usado como combustível, como matéria-prima para o cimento. Todo lixo é bem-vindo! Vejam este depoimento: “Ao lado dos pneus, são depositados nos fornos o material conhecido como “lodo” (fezes humanas) e o poluente carvão mineral”2.

A indústria ceramista – pra fugir de sua obrigação de tratar e dar destinação correta ao seu resíduo - vive dizendo que entrega seu lodo de cerâmica pras cimenteiras. Claro, é bem mais barato!

Mas o mais ‘verde’ é queimar pneu usado. É uma festança! Pra evitar mosquito da dengue.

E a Votorantim Cimentos ‘co-processa’ metade de tudo que é processado no Brasil1. Em 2007, ela queimou cerca de 400 mil toneladas, metade do volume médio co-processado no Brasil, que é de 800 mil toneladas. Isso é 30% do total de lixo industrial produzido (oficialmente, claro), por ano, aqui3.

Gente, lixo industrial queimado é cangerígeno! Não tem filtro que segure!

Se os governantes não sabem disso. E estão pagando pra Votorantim vir pra terra da Baleia Franca, é hora dos governados abrirem os olhos e os ouvidos... E dizerem NÃO a mais este mega empreendimento poluente, que vai socializar a degradação ambiental em Santa Catarina.

A corrida contra a Votorantim tem que começar agora! Avisem aos vizinhos!

1 – Confirmada fábrica da Votorantim em Imbituba

2 - Pneu usado é co-processado

3 - Votorantim cresce e deixa um rastro de pobreza e devastação

Ana Echevenguá, advogada ambientalista, presidente do Instituto Eco&Ação,

e-mail: ana@ecoeacao.com.br,

website: www.ecoeacao.com.br.