domingo, 29 de agosto de 2010

Cursos de “redação e edição sionistas” para a Wikipedia

Mapa Cisjordânia


Palestinos versus israelenses: a batalha pela Wikipedia

18/8/2010, Rachel Shabi (de Jerusalém) e Jemima Kiss. Guardian, UK

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Desde os primeiros dias da rede, o conflito entre israelenses e palestinos foi travado, no front retórico, também nas salas de bate-papo e nas listas de discussão e blogs da internet.


Agora, dois grupos israelenses sionistas, tentando controlar esse debate, iniciaram um curso de “redação e edição sionista” para a Wikipedia, a enciclopédia online construída na própria rede.


Yesha Council, organização que representa o movimento dos colonos judeus, e o grupo de direita Israel Sheli (Minha Israel), já realizaram o primeiro workshop do curso, em Jerusalém, para ensinar os participantes a revisar e redigir algumas das páginas mais discutidas da Wikipedia.


“Não queremos mudar a Wikipedia nem convertê-la em braço de propaganda”, disse Naftali Bennett, do movimento de colonos judeus. “Queremos apenas mostrar nossa posição, para que todos conheçam o outro lado. As pessoas veem os israelenses como mesquinhos, egoístas, gente que passa o dia a torturar árabes.”


A Wikipedia é uma das páginas mais populares da internet. Seus 16 milhões de verbetes são abertos e podem ser re-editados e reescritos – inclusive podem ser apagados. O problema, segundo Ayelet Shaked, do movimento ultranacionalista Israel Sheli, é que, na internet, o número de ativistas sionistas pró-Israel é muitíssimo menor que o número de ativistas pró-Palestinos. “Não queremos ceder esse campo ao inimigo”, diz ela. “Mas somos tão poucos e eles são tantos! As pessoas nos EUA e na Europa nunca ouvem os argumentos dos sionistas israelenses, com os argumentos e explicações certas.”


Como outros envolvidos nesse projeto, Shaked entende que o governo de Israel “não está fazendo grande coisa” no sentido de explicar Israel e o sionismo ao mundo. E entendem que, na Wikipedia, há muito o que corrigir, reeditar e reescrever.


Por exemplo, diz Bennett, do movimento dos colonos judeus, “a página sobre Israel mostra um mapa. Mas o mapa de Israel é mostrado sem as colinas de Golan e sem Judeia e Samaria” – referindo-se ao território sírio que Israel anexou e à Cisjordânia que Israel ocupou ilegalmente na guerra de 1967.


Outro problema para os sionistas é a referência a Jerusalém como capital de Israel – que tem sido constantemente alterada na Wikipedia.


Outro verbete que também tem sido repetidas vezes modificado na Wikipedia é o que leva o título de “Goods allowed/banned for import into Gaza” [bens permitidos/proibidos para importação para Gaza] – e que agora os sionistas cogitam apagar; e um verbete sobre os territórios palestinos.


Há também a questão de como se denominam algumas áreas e pontos. “Ariel é uma cidade ou um assentamento?” – pergunta Shaked, referindo-se à área que, hoje, aparece na Wikipedia como “colônia israelense e cidade da região central da Cisjordânia”. Essa é questão que tem sido objeto de vários milhares de palavras nas listas de discussão sobre o tema, dos grupos que discutem e redigem verbetes para a Wikipedia.


A ideia, diz Shaked e outros colonos sionistas, não é causar muito barulho e acabar sendo varrido da comunidade – a comunidade dos internautas que editam a Wikipedia é sensível, procura construir consensos e exige tempo para que cada internauta ou grupo conquiste a própria credibilidade.


“Já aprendemos o que não fazer: não chegue lá e mergulhe nas questões mais complexas, não discuta demais. Afinal, trata-se de uma comunidade semidemocrática, que não admite qualquer coisa. É preciso trabalhar para não ser imediatamente banido”, diz Yisrael Medad, que participou do primeiro curso de edição e redação sionistas para a Wikipedia, de Shiloh.

Shiloh, território ocupado na Cisjordânia? “Não”, suspira Medad, paciente. “É Shiloh, na região de Binyamin, do outro lado da Linha Verde, nos territórios disputados.”


Uma dessas re-editoras e re-redatoras da Wikipedia que vive em Jerusalem, e que pediu para não ser identificada, disse que não acha boa ideia divulgar tanto a iniciativa do curso de edição e revisão sionistas da Wikipedia. “Antes, sempre que a coisa foi muito divulgada, o trabalho fracassou”, diz ela. “Israel está em guerra e, infelizmente, há guerras que têm de ser lutadas clandestinamente”.


Em 2008, membros do grupo Camera da extrema direita pró-Israel, e que planejou movimento não-divulgado para corrigir verbetes da Wikipedia para dar-lhes tom pró-sionistas e pró-Israel foram banidos pelos administradores da enciclopédia online.


Atualmente, o movimento de colonos judeus está organizando uma força-tarefa de informações para invadir as novas mídias, postando em sites como Facebook e YouTube, e diz já contrar com 12 mil membros ativos, com novos 100 inscritos a cada mês. “A verdade é que há muita gente querendo fazer esse trabalho”, diz Bennett. “O povo israelense sente-se profundamente frustrado ao ver o modo como é retratado pela comunidade internacional.”


Os organizadores dos cursos de edição e redação sionistas para a Wikipedia planejam agora um concurso para selecionar o “Melhor Editor Sionista” – que receberá, como prêmio, uma viagem de balão sobre Israel.


Guerras da Wikipedia


Há frequentes discussões entre editores voluntários e obsessivos que competem na gestão da Wikipedia. E também há conflitos sobre vieses de edição e tentativas de usar a enciclopédia para promover nomes ou causas; não raras vezes aparecem verbetes editados contra jornalistas, ou para criar-lhes problemas. Recentemente, o jornal The Independent publicou informação errada de que o [festival musical] Big Chill começara a existir como festival Wanky Balls. Em 2005, o diretor editorial e fundador do jornal USA Today, John Seigenthaler, descobriu que o verbete com seu nome na Wikipedia afirmava que estivera envolvido no assassinato de JFK.


Os editores podem manter-se anônimos, ao alterar o conteúdo dos verbetes, mas casos mais complexos, e que venham à tona, são decididos por um comitê de arbitragem da enciclopédia. A Cientologia foi tema de repetidos e infindáveis conflitos, até que o comitê proibiu que o movimento redigisse ou editasse verbetes.


Os críticos citam sempre a possibilidade de qualquer um editar os verbetes como prova de que a enciclopédia online não teria a credibilidade dos jornais e jornalistas. Mas os defensores argumentam com a evidência de que os erros e controvérsias são mínimos, se se consideram os grandes números: a Wikipedia hoje pode ser lida em 271 idiomas e tem 379 milhões de usuários por mês.


O artigo original, em inglês, pode ser lido em: Wikipedia editing courses launched by Zionist groups


Comentário de Arnaldoc

Os pontinhos em vermelho no mapa, aliás bastante pífio, são as colônias neossionistas na Cisjordânia, que Israel designa biblicamente de Judéia e Samaria (*). Um bando de celerados é o que essa gente é.

Nota:

(*) Como se os askenases no poder de Telavive tivessem alguma coisa a ver com aquele mundo perdido na Palestina, desde 130 d.C....