domingo, 19 de setembro de 2010

As balas de prata midiáticas

Sonia Montenegro em 19/09/2010

Jornalistas e blogueiros progressistas especulam a respeito de qual será o último tiro que a imprensa desferirá na ante-véspera da eleição, para tentar evitar a vitória da Dilma no 1º turno, o que chamam de "bala de prata".

Pode parecer a alguns incautos, tratar-se de paranóia, mas quem acompanha as eleições desde a volta das "diretas", sabe que, sempre que o favorito nas pesquisas não é o favorito da imprensa, é exatamente o que acontece. Senão vejamos:

1989 - Collor e Lula

Circulam diversos boatos, do tipo: Lula vai confiscar poupança (Lula não confiscou, mas o Collor sim), Lula fará os pobres invadirem as casas e apartamentos, e você vai ter que dividir seu espaço com eles (os "pobres"), os automóveis serão confiscados para comprar bicicleta para os "pobres", e por aí vai...

  • 25/10 - Mario Amato, então presidente da Fiesp - Federação das Indústrias de SP, afirma que a vitória de Lula resultaria em um êxodo de centenas de milhares de brasileiros para o exterior.

  • 12/12 - Programa eleitoral de Collor leva ao ar o depoimento de Miriam Cordeiro, antiga namorada e mãe de uma filha de Lula, dizendo que ele ofereceu dinheiro para que ela provocasse um aborto. Tempos depois ela confessa que recebeu 24 mil dólares para dar seu depoimento, e se confessa arrependida.

  • 13/12 - TV Globo mostra as imagens do programa do PRN com as declarações de Miriam Cordeiro dentro do Jornal Nacional, que antecede a novela, no horário nobre da TV. A peça publicitária é vista por um número de espectadores maior do que o da audiência do horário eleitoral gratuito.

  • 14/12 - Seqüestradores do empresário Abílio Diniz (2 argentinos, 2 canadenses, 5 chilenos e 1 brasileiro) se rendem e o libertam. Luiz Antonio Fleury Fº, secretário de segurança de SP, anuncia que foram encontrados panfletos do PT, que pertenceriam aos seqüestradores de Abílio Diniz. Posteriormente, foi constatada a fraude armada para mais uma vez favorecer o Collor e prejudicar o Lula na eleição: os panfletos foram plantados antes que os jornalistas pudessem fotografar a cena.

No mesmo dia, é realizado o 2ª debate, transmitido por um pool formado pelas 4 principais emissoras de televisão do país: Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT, entre os candidatos à presidência da República. As perguntas feitas pelos jornalistas Boris "Isso é uma Vergonha" Casoy (membro do grupo terrorista de extrema-direita CCC - Comando de Caça aos Comunistas e que não gosta de lixeiros), e Luiz Fernando Emediato, foram cuidadosamente escolhidas para levantar a bola para Collor, e para Lula, "pegadinhas". A Rede Globo não divulga a última pesquisa Ibope, porque o Lula vinha em curva ascendente e o Collor em descendente, e o resultado não interessava ao candidato escolhido (Lula teria passado, por pequena margem). Artistas como Cristina Pereira, Joana Fomm, Tássia Camargo, Chico Buarque, Paulo Betti, entre outros, fazem um protesto em frente à sede da Rede Globo no Rio de Janeiro, exigindo a divulgação da pesquisa: sem sucesso.

  • 15/12 - Rede Globo exibe no Jornal Nacional o compacto do último debate, para cumprir a missão de ajudar Collor. Nela, ele tem a mais 1 min e 12 segs de exposição do que Lula, e são escolhidos a dedo, os melhores momentos do Collor, contra os piores do Lula, com o claro intuito de favorecer o 1º. A eleição acontece 2 dias depois.

1994 e 1998 - Lula x FHC

  • Como Lula saiu na frente nas pesquisas, casuisticamente, o Congresso diminuiu o mandato presidencial de 5 para 4 anos, mas ancorado no Plano Real, com o apoio do então presidente Itamar Franco e de toda a grande mídia, FHC começa a subir e vence Lula no 1º turno.

  • FHC nunca foi a debate e os jornalistas consideravam normal que estando na frente, não tenha querido ir, porque seria o alvo de todos os oponentes. Numa das campanhas, a Rede Globo chegou até a cancelar o debate. Mas não foi esse o comportamento da emissora, quando Lula não foi ao debate no 1º turno em 2006. Bonner Simpson fez um estardalhaço, e deixaram um lugar vazio, para mostrar a "falta de consideração do Lula com o eleitor". Agora também, a farsa se repete pela Dilma ter faltado a um, para viajar para Porto Alegre, para assistir o nascimento do seu 1º neto.

  • Em 1/9/1994, antenas parabólicas captam uma conversa informal entre o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, e o repórter da Globo, Carlos Monforte, antes da gravação de uma entrevista. Além de chamar os empresários brasileiros de "bandidos", ainda revela: "para a Rede Globo foi um achado. Em vez de terem que dar apoio ostensivo a ele (FHC), botam a mim no ar e ninguém pode dizer nada. (...) Isso não ocorreu da outra vez. Essa é uma solução, digamos, indireta, né?", e conclui: "Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde", o que mostra inquestionavelmente o emprenho da emissora de favorecer FHC, com a "solução indireta".

Outra cumplicidade da Rede Globo com FHC é um filho de uma jornalista da emissora, Miriam Dutra Schmidt, com o político. Ela é transferida para a Espanha, com excelente remuneração, para evitar embaraços ao presidenciável FHC.

2002 - Serra e Lula

  • 8/6 - George Soros, megaespeculador húngaro, naturalizado norte-americano e ex-patrão do então Presidente do Banco Central, Armínio Fraga, afirma: "O Brasil está condenado a eleger José Serra ou mergulhar no caos assim que um determinado governo Luiz Inácio Lula da Silva se instalar.

  • 14/6 - Rudiger Dornbusch, economista do MIT - Massachusetts Institute of Technology e especialista em América Latina, prevê um colapso da economia brasileira até dezembro (que de fato aconteceu, e o Brasil, mais uma vez, recorre ao FMI). Essa era a excelente gestão econômica de FHC.

  • 14/10 - Regina Duarte usa o método alarmista de colocar medo na população, no caso da vitória do Lula em propaganda de Serra.

  • 17/10 - José Serra intensifica a chamada "teoria do caos", de um futuro governo Lula.

A mídia foi menos explícita nesta campanha porque sabiam a batata quente que o Lula estava herdando, e achavam que não daria conta do recado, e eles voltariam, se livrando desta "raça" por 30 anos...

  • Em 4/9/2006, Ilimar Franco, jornalista de O Globo, lista o que considera os erros de avaliação da oposição: "no começo do governo Lula, FHC dizia que seu mandato não duraria 6 meses..."

Tudo indicava que era mesmo a vez do "cara", porque o 1º turno aconteceu no dia do seu nascimento (6/10), o 2º no dia em que foi registrado (27/10), há exatos "13" anos depois da 1ª disputa, em 1989.

2006 - Alckmin e Lula

Desta vez, o bicho pegou outra vez. Apareceu até um infalível "vidente", um tal de Juscelino, no Fantástico, para garantir que o Alckmin ganharia a eleição. Também criaram uma Caravana da Cidadania, conduzida pelo Pedro Bial (tucano de carteirinha), para mostrar a situação calamitosa das estradas brasileiras, omitindo a situação das mesmas encontradas por Lula e as diversas já restauradas.

  • 4/5 - Operação Sanguessuga, da Polícia Federal, desarticula uma organização criminosa no Ministério da Saúde e na Câmara dos Deputados que agia desde o ano de 1998, cumprindo 53 mandados de busca e apreensão e efetuando 48 prisões em 7 estados.
  • 14/9 - Documentos mostram que a Máfia das ambulâncias agia com o aval do então ministro da Saúde José Serra (o que ousa se auto-denominar "o melhor Ministro da Saúde do Brasil), que teria determinado o empenho e a elaboração de convênios para emendas destinadas à compra de ambulâncias junto a empresas do grupo Planam. Fotos e vídeos já circulavam na internet, em que José Serra elogiava o empenho dos parlamentares ao projeto. Serra participa da solenidade de entrega de ambulâncias superfaturadas no Mato Grosso.

Na ocasião, Serra era candidato ao governo de SP, e se o episódio viesse à tona, causaria um grande estrago às campanhas tucanas, e Alckmin corria o risco de perder a eleição logo no 1º turno, e surge então a "vacina", o episódio dos "aloprados" petistas, que caíram de gaiatos na trama.

A tentativa da compra de um suposto dossiê, que não é crime, vira notícia sensacionalista, mas o conteúdo do mesmo, o superfaturamento, que é crime, vira "dossiê fajuto", dando ao Serra o papel de vítima de uma "armação", embora 70% das 891 ambulâncias comercializadas pelos Vedoin, donos da Planam, foram compradas por José Serra e seu homem de confiança, e sucessor no Ministério da Saúde, Barjas Negri.

O caso foi assunto para uma edição especial da revista Carta Capital, em reportagem minuciosa de Raimundo Rodrigues Pereira, que conclui: "Os petistas já foram presos, agora trata-se de achar os crimes que possam ter cometido."

  • 29/9 - A Rede Globo ignora o acidente da Gol, para noticiar com grande sensacionalismo a pilha de dinheiro dos 'aloprados' do PT, extraída ilegalmente do processo por um certo delegado Bruno e levar a provável reeleição do Presidente Lula para o 2º turno.

  • Com todo o espalhafato midiático, todos nós que declarávamos explicitamente nosso apoio à reeleição do Lula sofremos ataques, (a Dani perdeu uma parte de um dedo), como se nós fossemos contra o Brasil e a favor da corrupção. E vai explicar que não é bem assim, para as pessoas que se informam através do Jornal Nacional, Globo e Veja. Defender o Lula virou sinônimo de fanatismo, e essa animosidade explícita entre irmãos é também de responsabilidade da imprensa golpista brasileira.

  • No último debate, as perguntas aos candidatos tinham a mesma estratégia: levantar a bola do Picolé e as perguntas para o Lula eram sempre pegadinhas que não eram da responsabilidade do governo Federal, para que o Lula tivesse que dizer que não era da alçada do cargo em disputa, mas ele se saiu bem, aproveitando para dizer o que queria. Escolheram a dedo jovens que estariam em dúvida entre os 2 candidatos, para formularem perguntas, e o "indeciso" que fez pergunta ao Lula tinha uma comunidade anti-Lula no Orkut.

2006 - Serra e Dilma

  • Embora Dilma esteja no governo desde 2001 e no Ministério da Casa Civil desde 2005, a imprensa não descobriu nada contra ela durante todo esse tempo, mas depois de sua indicação à presidência, descobrem toda uma série de factóides que, quando desmontados, somem dos noticiários para dar lugar a outros.

Assim foi e assim será, enquanto a imprensa continuar gozando do privilégio da impunidade.