terça-feira, 12 de abril de 2011

China: Crescer com paz, reformas e abertura ao Ocidente


31/3/2011, Zheng Bijian, traduzido do chinês ao italiano e comentários de Francesco Sisci
Traduzido do italiano pelo pessoal da Vila Vudu
Zheng Bijian é presidente do Fórum de Reforma da China e assessor do presidente Hu Jintao.

 
A partir da segunda metade de 2008, com a crise financeira e o crescimento da força econômica da China, cresceu a ansiedade, na opinião pública internacional sobre o rumo do desenvolvimento chinês. Viram-se ceticismo e muita especulação sobre as intenções da China, de manter-se fiel ao projeto de desenvolvimento pacífico. Houve quem dissesse que o “crescimento com paz” não seria possível e que a China não seria exceção aos muitos precedentes históricos, como Alemanha e Japão da primeira metade do século 20, ou a URSS da segunda.

Felizmente, já se ouvem hoje vozes mais tranquilas, mais racionais e mais ponderadas, em todo o mundo. O que demonstra o amplo consenso que já há sobre a existência de “interesses de todos” e a interdependência no mundo contemporâneo.

Zheng Bijian
Já propus, em 2004 [1], que a China deve construir gradualmente uma comunidade de interesses com seus vizinhos, na região limítrofe, com todos os países e regiões, e em especial com os grandes países e organismos internacionais que mantêm a ordem mundial atual como, por exemplo, os países europeus e os EUA.

Em tempos de globalização, nossos interesses são tão intimamente conectados, que todos precisamos uns dos outros. O crescimento de ameaças não tradicionais trouxeram à luz outro conceito de segurança baseado na cooperação entre os grandes países. A comunidade internacional compreende a necessidade de ações comuns, para enfrentar as questões mais prementes nas regiões e para manter a paz e a segurança internacionais.

Os primeiros vinte anos do século 21 são período crucial para o esforço chinês de “construir uma sociedade moderadamente próspera, num nível mais alto que o que hoje conhecem mais de um bilhão de pessoas”.

É período de desenvolvimento que se concentra em fazer avançar as condições materiais da vida humana e melhorar a qualidade material da vida de modo sustentável. É também período de transformação da economia chinesa, de crescimento quantitativo e qualitativo. Já transcorreu metade desse período: conseguimos muito em termos quantitativos, mas ainda não, em termos qualitativos.

Na segunda década do século 21, o crescimento chinês enfrenta grande número de desafios relacionados aos limites do crescimento econômico, pela escassez de recursos e pelo meio ambiente já ameaçado de esgotamento.

Trata-se agora de buscar desenvolvimento econômico e social equilibrado, por exemplo mediante investimentos e consumo, nas áreas urbanas e rurais, nas regiões orientais e ocidentais, de uma difícil reestruturação industrial, do empenho ainda insuficiente na pesquisa e desenvolvimento, de recursos humanos ainda insuficientes para andar na direção de uma nova estrutura de trabalho, de distribuição desigual da renda, de reajustes na estrutura dos ganhos, da falta de governança social eficaz e de conflitos sociais mais amplos, além dos graves desastres naturais, previsíveis ou imprevisíveis.

Para enfrentar esses desafios no que nos cabe fazer no segundo decênio do século 21, a China concentrar-se-á na transformação do modelo econômico de desenvolvimento, para garantir vida segura e em melhores condições materiais para as pessoas, consolidando e ampliando os sucessos que obtivemos na resposta que a China deu à crise financeira, viabilizando um rápido crescimento econômico, estável e prolongado, com harmonia e estabilidade social.

Essas são as fundações firmes, sobre as quais será possível construir uma sociedade moderadamente próspera. Para esse fim, a China transformará nossa economia, de um modelo baseado principalmente na demanda externa, para modelo baseado na demanda externa e na demanda interna, mas, principalmente, na demanda interna.

Esse modelo será acompanhado de rápida transformação da estrutura social, com destaque para a estrutura do consumo. A China, hoje classificado como país de consumo médio-baixo, alcançará rapidamente níveis de consumo médio-altos. A China se dedicará ao desenvolvimento interno, com altos padrões éticos, para inspirar seu povo a trabalhar em nome de ideias respeitáveis.

A China será país dinâmico, igualitário, harmônico e estável. Assim, a China assume seu compromisso com aprimoramento político e renascimento cultural. Sem dúvida, essa China oferecerá ao mundo mercado ainda maior que antes, e novas possibilidades de desenvolvimento.

A via chinesa, de desenvolvimento com paz, é conforme a tendência histórica. Hoje, o desenvolvimento mundial segue a via da globalização da economia, com interdependência nas relações internacionais.

Nesse contexto, o diálogo, as consultas, a coordenação, a gestão e a reforma, por vias pacíficas, cooperativas e que visem ao mútuo benefício, serão os instrumentos mediante os quais afrontar os problemas existentes e emergentes – essa a principal tendência do desenvolvimento futuro da humanidade. O mundo encontrará oportunidades e desafios, e mais oportunidades que desafios.

Na segunda década, a via chinesa de desenvolvimento pacífico e a política de construção de um mundo harmonioso devem ser concretizadas. A coisa mais importante é “expandir e aprofundar a convergência de interesses” e cultivar uma “comunidade de interesses” com outros países, outras regiões e áreas e em vários níveis. Essa a política que a China adotará para a década que se inicia.

É o que temos de fazer para ir ao encontro não só do desenvolvimento da China, mas do desenvolvimento de todos os países do mundo. E creio que esteja de acordo com a tendência do desenvolvimento mundial. Desejamos que cada vez mais países reconheçam e compreendam nosso propósito político.

A “expansão e o aprofundamento da convergência de interesses” e a “construção da comunidade de interesses” são políticas do governo chinês. Em particular, a “expansão e o aprofundamento da convergência de interesses” com várias partes foram incorporados à proposta do Comitê Central do Partido Comunista na formulação do 12º Plano Quinquenal para o Desenvolvimento Econômico e Social, recentemente publicado. Em saudação, na cerimônia de abertura do 8º Encontro Ásia-Europa (ASEM) em Bruxelas, em outubro de 2010, o premiê Wen Jiabao propôs que os membros se convertessem numa “estreita comunidade de interesses”.

O presidente Hu Jintao em conversa telefônica com o presidente Barak Obama dos EUA disse “Enfrentamos questão importante, de como elevar a cooperação China-EUA, positiva, cooperativa e compreensiva, a nível mais alto, para construir uma parceria cooperativa em áreas de interesse comum”.

Nos últimos trinta anos, a China conheceu desenvolvimento pacífico, de fato acreditamos que a paz já está conquistada e que nos cabe mantê-la e ajudar a mantê-la em toda a região.

A China cresceu economicamente e tem agora de enfrentar importantes e delicadas reformas internas, ao mesmo tempo em que já tem grande impacto no mundo. Por isso a paz interessa à China, que tem interesse objetivo em que o mundo viva em paz e em ordem.

Para tanto, é preciso encontrar um ponto de interesse comum com países estrangeiros, porque só se se mantiverem interesses comuns partilhados com todo o mundo, o desenvolvimento chinês poderá manter-se pacífico, com benefícios para a China e para todos. Diferente disso, os conflitos prejudicam todos os interesses.

No processo de mudanças econômicas e políticas mundiais, os fatores de base que têm feito avançar as relações China-EUA, China-Europa e China-Japão nos últimos dez anos, mantêm-se, não obstante os problemas e as diferenças entre esses países. Problemas e diferenças obrigam-nos a buscar novos pontos de desenvolvimento nas relações laterais e multilaterais, com vistas a ampliar e aprofundar a convergência de nossos interesses e a construir uma "comunidade de interesses" que beneficie todos. 

Em resumo, é necessário e possível para a China trabalhar junto, com visão global, espírito pragmático e sabedoria política, para construir comunidade de interesses bilaterais e multilaterais, em várias áreas e níveis, ao longo dessa segunda década do século.

Para esse objetivo, devem-se superar as diferenças de ideologia e sistemas sociais e eliminar as restrições paroquiais que fecham a porta ao diferente. Um acúmulo de interesses convergentes fundamenta uma comunidade de interesses. As condições já são maduras para construir-se a comunidade de interesses que abrirão imenso espaço para cooperação mútua, com excelente possibilidade de sucesso.




Nota de tradução
[1]China's Peaceful Rise to Great-Power Status”, Zheng Bijian (Chair of the China Reform Forum), Foreign Affairs, EUA, Setembro/outubro 2005, em inglês.

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