domingo, 15 de maio de 2011

OS MEUS QUINHENTOS ELEITORES

José Flávio Abelha na labuta diária

*José Flávio Abelha

Nos tempos do Contestado MG/ES eu era bancário em Mantena, lado de Minas, e recebi um pedido do meu tio residente em Vitória/ES, para que recebesse e acompanhasse o Secretário de Estado capixaba, dr. Cícero Alves, seu amigo, que iria a Mantenópolis, lado capixaba, para um comício, candidato que era a deputado estadual.

Lá fui eu com S.Excelência e fomos recebidos com um foguetório, banda de música e bandeirolas. No palanque, o chefe político local, um farmacêutico gordoto e baixinho, Florizel Lamêgo, fazia as honras municipais. Diga-se, grande "mitingueiro".

Florizel deixou para os seus filhos, João, em Ipatinga/MG e meu compadre Maurício, em Conselheiro Pena, todos os seus dotes:os mistérios da farmacopeia, o dom da oratória  a lhaneza no trato eleitoral e o biotipo.

Entre vivas e fogos, o inflamado Florizel diz a frase que nunca mais esqueci:" Os meus quinhentos eleitores são seus, senhor futuro deputado".

Nesta semana, fim de noite, dei uma zipada na TV. A madrugada já queria entrar e lá fui eu catando os canais. Filmes menores, desenhos, muitos vendendo anéis, relógios e tapetes, vários canais com pregação religiosa através de pastores bem vestidos, um padre, todo paramentado como se estivesse no vaticano, com uma voz piegas (de piedade) falando de Maria e Anjos. E o mais curioso, um pastor em mangas de camisa, suando em bicas, com uma pilha de lenços na mesa. Era um verdadeiro animador do auditório. A cada enxugada de testa, uma disputa pelo lenço milagroso e muitos depoimentos de milagres e mais milagres.

Filmes bons, só pagando. Aportei o meu barco no canal da Câmara dos Deputados para assistir ao espetacular teatro da madrugada.

Oradores inflamados, todos de pé, não sei o porquê, e dezenas de papagaios de piratas. Cada orador na platéia, um monte de papagaios, claro que estavam ali tão somente para serem filmados. Lá estava, em alguns momentos atrapalhando a filmagem do orador, o ex-senador mineiro, hoje um deputado sem luz própria, filho do grande e saudoso Renato Azeredo.

Eis que surge o relator do controvertido projeto, deputado Aldo Rebelo. Sério, voz pausada, firme, rebatendo uma acusação contida no twiter da também papagaio de pirata Marina Silva. Pombas, sem mandato, caberia ela estar nas galerias com os seus compaheiros sem mandato mas, desejando mostar prestígio, lá estava no meio daquela multidão que não se sabe a origem.

Aldo foi curto e rasteiro e respondeu, à altura do ataque que sofrera, com um argumento que fez a "defensora dos bagres", no dizer do ex-presidente Lula, tremer de ódio nas bases. Lembrou Aldo que o seu marido (dela) fora acusado de contradando de madeira e que ele não permitiu a sua convocação na CPI.

Foi a conta. Um deputado assume o microfone, tece muitos elogios ao relator e lhe pede que retire dos anais da Câmara as palavras amargas proferidas sobre o marido da ex-senadora, e, patético, pedindo-lhe em nome dos 22 milhões de votos que Marina recebera nas recentes eleições para a Presidência da República.

Foi o gatilho para que me viesse à lembrança os "quinhentos eleitores do Florizel Lamêgo".

Em sendo assim, não se pode atacar Zé Serra com os seus quarenta e tantos milhões de votos, FHC com toneladas de votos, menos o Lula que pode se lembrar dos seus milhões de votos com poder de transferência. Aquela transferência que diziam ser para um "poste", outro erro da oposição, visto que o poste é uma das coisas mais úteis em uma cidade pois conduz a energia que alimenta fábricas, ilumina os lares e as ruas e ainda conduz cabos de telefonia, TV e internete.

Queiram os orixás que Lula e Dilma elejam outro poste.

É preciso que os políticos, do vereador ao senador, saibam que o voto é a fotografia do momento, da ocasião. O Azeredo não teve fôlego para lutar por novo mandato. Despencou dos seus milhões de votos para alguns milhares, e deve estar agradecido por ter sido eleito, fugindo assim, provisoriamente, do processo que corre no STF, o "mensalão mineiro". Outros senadores nem voltaram, amargaram vergonhosas derrotas.

Muitos reclamaram do desfecho do teatrinho da madrugada quando não teve votação, mas todos sabiam que o Planalto havia determinado que, ou se vota como o acertado ou...gaveta. O que se viu foi figuração.

Dizem que na próxima semana a leréia continua.

Antes que eu me esqueça: Em Mantenópolis, Florizel cumpriu a promessa e seus quinhentos eleitores deram ao candidato cerca de 450 votos, com os quais ganhou um assento na Assembléia Legislativa do glorioso Espírito Santo.
*Mineiro, Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar . Agora, agitante do blog JANELA DO ABELHA, 

Um comentário:

  1. Pelo que vejo, somente um Florizel conseguiria fazer aqueles de pé sentarem-se. O Parlamento de Tuválu não tem poltronas nem cadeiras, mas o caras se sentam ao chão. Só se levantam para discursar (ou ir "ali pertinho", para aliviarem-se...).

    O estrangeiro que chega ao Rio, no verão, também estranha que, entre a beira-mar e a(o)s banhistas deitada(o)s à sombra das barracas, há uma verdadeira barreira humana de gente em pé. Por quê? Coisa mais esquisita, sô!

    Em nossas duas Casas congressuais, é muito feia aquela concentração paspalhônica de parlamentares fora de suas poltronas. Feia e caótica, servindo apenas para esculhambar a ordem-do-dia.

    Abraços do
    ArnaC

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