quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Policiais temem que manifestantes os agridam com xixi & cocô!


Medo histérico em Chicago, à espera do encontro do G8-OTAN, em maio

14/2/2012, Kevin Gosztola, The Dissenter 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Kevin Gosztola
A prefeitura de Chicago do prefeito Rahm Emanuel comprou “novos escudos protetores de rosto” para os policiais de Chicago, para serem usados durante a reunião do G8-OTAN na cidade, em maio próximo. Os “protetores de rosto”, segundo o Chicago Sun-Times, “adaptam-se perfeitamente sobre as máscaras antigás e blindarão os policiais contra líquidos que sejam jogados contra eles”.

Os escudos estão sendo comprados da empresa Super Seer Corporation com sede no Colorado. 3.057 “escudos novos e aprimorados” já foram comprados. São parte de “contrato de emergência no valor de $193.461”, “primeira aplicação” do “poder extraordinário garantido a Emanuel para comprar equipamentos e serviços necessários para a reunião do G8-OTAN na cidade”. [Em janeiro passado, o Conselho Municipal de Chicago deu ao prefeito Emanuel autorização para fazer compras sem licitação e sem depender de aprovação do Conselho Municipal, no caso de os equipamentos ou serviços necessários para a reunião do G9-OTAN na cidade não estarem previstos nos contratos já existentes.]

Mas exatamente que líquidos o prefeito e os policiais temem que os manifestantes contra a reunião do G8-OTAN “lancem” contra os policiais? O presidente da Frateneral Order of Police (FOP) [Ordem Fraterna da Polícia] Mike Shields argumenta que os novos escudos são necessários para impedir que “anarquistas e outros manifestantes extremistas ceguem os policiais com urina e fezes”.  [1] 

Segundo o Sun-Times, Shields gostou que a compra esteja feita, mas teme que a quantidade seja insuficiente:

“[Shields] não tem certeza de que bastem os 3.057 escudos se, como ele teme, dezenas de milhares de manifestantes chegarem a Chicago para os encontros sem precedentes que atrairão para a cidade as atenções de todo o mundo.

Temos 9.500 policiais. Cada um deles precisa de novo escudo, porque só têm o modelo antigo, que é absolutamente ineficaz, feito de plexiglass muito fino. Se se pressiona o escudo com o polegar, ele se quebra. Se receber uma pedrada, pula fora. Não é impermeável e qualquer líquido o atravessa” – diz Shields.

Sabe-se que os manifestantes que aqui estarão para protestar contra as reuniões do G8 e da OTAN são conhecidos por jogar garrafas com urina e sacos de fezes contra a polícia. Os policiais precisam de escudo que se adapte às substâncias que são jogadas contra eles.”

O presidente da empresa Super Seer Corporation, Steve Smith, não descarta a suposta “ameaça” de “urina e fezes” durante as reuniões na cidade. Sua empresa, que fabrica escudos para policiais, ganhará mais, quanto mais se dissemine esse medo histérico, irracional. Para Smith, o risco de os policiais serem atacados com “sacos de urina e outros líquidos” é “risco bem evidente”. Os protestos serão “voláteis”. Há risco de “policiais serem feridos”. E, aparentemente, há risco de que, entre os projéteis, haja excrementos humanos.

Mas, afinal, quando aconteceu de policiais serem atingidos por tais substâncias? Na matéria publicada no Sun-Times, há rápida referência, perdida no texto, a uma vez, há muitos anos, quando um “anarquista” ou “agitador” foi preso por pôr a polícia em risco de ser atingida por cocô ou xixi de esquerdistas. De fato, jamais se registrou nenhum incidente desse tipo. Não há nenhum incidente que justifique a militarização da polícia e a demonização preventiva dos manifestantes na preparação para os eventos previstos para Chicago.

Pesquisa no noticiário revela que todos os policiais e agentes de segurança da cidade sempre tomaram as medidas de prevenção que uma pessoa razoável considere necessárias. E urina e fezes aparecem entre riscos a temer, porque alguém teria dito que aconteceu, provavelmente em 1999, nos protestos de Seattle contra reunião da Organização Mundial do Comércio, de os policiais terem sido agredidos com urina e fezes. Infelizmente, bastou esse boato, porque nenhum jornalista ou repórter parece ter considerado importante informar que nenhum “anarquista” conhecido jamais jogou urina e fezes contra policiais e que esse é um dos memes que persistem sobre os grandes protestos de nossos dias.

Cidadãos Normais Organizados contra o Cocô
"Cocô-NÃO"
Por isso, em 2008, pouco antes da Convenção Nacional do Partido Democrata em Denver, Colorado, três grupos que organizavam grandes manifestações assinaram um documento que chamaram de “Acordo do Cocô”. Tinha tom satírico, mas foi assinado a sério. O tratado de “não proliferação do cocô” na Convenção Nacional dos Democratas dizia, no preâmbulo:

“O grupo não partidário “Cidadãos Normais Organizados contra o Cocô” (doravante chamado “Cocô-NÃO”) conclama todos os partidos para uma moratória na prática de lançar, portar, distribuir ou induzir o lançamento de excrementos, na semana de 25-29 de agosto.

Reconhecendo afirmações recentes sobre a possível utilização de fezes e urina como arma de ataque, ouvidas nas discussões sobre métodos de controle de multidões durante a Convenção Nacional do Partido Democrata em 2008, criou-se o pânico de que a cidade de Denver possa ser inundada em excremento humano durante o evento;

Movidos pelo desejo implícito de policiais, manifestantes, delegados e do povo de Denver, de evitar-se o contato indesejado com tais dejetos;

Resolveram que se faz necessário um acordo multilateral para pôr fim à paranóia que lançou em confusão tantas pessoas aparentemente racionais;

Declaramos que, juntos, podemos iniciar uma nova era no planejamento de convenções, livres da ameaça de urina e fezes.

Infelizmente, nem esse acordo teve muito impacto na percepção dos policiais, de que estariam sob risco de serem agredidos com urina e fezes. O mesmo medo voltou à tona na Convenção Nacional do Partido Republicano em St. Paul, Minnesota, na primeira semana de setembro de 2008.

A polícia de Minneapolis revistava um ônibus. E há declarações segundo as quais “ao cair a tampa de um contêiner, todos sentiram odor típico de fezes humanas que vinha do ônibus” – segundo o Centro de Jornalismo Investigativo. [2] O ônibus pertencia a Stan e DeLyla Wilson. A polícia fez contato com um “centro de fusão” [3] em Montana e descobriu que os Wilsons eram ligado à organização Earth First!, que apoiava métodos radicais para deter a degradação do meio ambiente.

O “odor”, como depois se viu, vinha de cinco galões de “ração para galinhas”, não de urina ou fezes. O ônibus dos Wilsons foi levado para um ponto deserto da rodovia, por suspeitas de que contivesse outras substâncias, mas nada foi encontrado.

Durante os protestos contra reunião da Free Trade Area of the Americas (FTAA) em Miami em 2003 (quando o “modelo Miami” foi usado pela primeira vez), a polícia de Miami preparou para resistir a um ataque de urina e fezes. Quando o ataque não aconteceu, a polícia declarou que nem por isso os temores policiais seriam injustificados. O sargento Denis Morales, porta-voz do departamento de polícia, disse à impressa, ao apresentar as “armas” que os manifestante haviam planejado usar contra a polícia:

“Infelizmente não podemos exibir as garrafas de urina nem as fezes que os manifestantes planejavam usar.” Afirmou que “agentes não uniformizados” misturados à multidão de manifestantes haviam detectado, antes das manifestações, a presença daqueles “objetos potencialmente ameaçadores”.

Todos os discursos sobre policiais agredidos com urina e fezes não passam de mito. Como David Solnit escreveu em dezembro de 2011:

“Manifestantes que lançam urina e fezes contra policiais” é um dos mitos que as autoridades usam para criminalizar os protestos desde Seattle, embora nada comprove a ocorrência desse tipo de agressão em Seattle nem em qualquer outro evento de protesto global. É mais um mito que se criou para encobrir e, de algum modo justificar, a violência contra as liberdades civis e a violência policial contra manifestantes. 

Para o militante David Meieran, do Grupo “Salve Nossas Liberdades Civis”, “É parte de um espectro de estratégias de guerra de informação que o Estado usa para reprimir qualquer oposição ou dissidência. ‘Urina e fezes’ deve ser analisado no contexto mais amplo da completa ignorância dos policiais sobre tudo que tenha a ver com manifestações populares e eventos sociais de protesto. Temos ouvido a mesma linguagem e expressões similares em praticamente todas as cidades onde há manifestações populares (policiais agredidos com ‘urina e fezes’; ‘no tempo dos pais de vocês isso não acontecia’ etc.).”  [4]

Mas, como a maioria dos policiais trata os manifestantes como seres que ameaçam gravemente a ordem pública, em vez de os verem como cidadãos que exercem o direito de discordar, garantido pela 1ª Emenda da Constituição dos EUA, não surpreende que o mito se perpetue.

Os novos escudos são mais um símbolo da mesma ideia sobre o que seja a lei e a aplicação da lei, resposta a gente ‘inferior’ que se atreve a protestar, e que os policiais desprezam, porque não entendem que alguém se atreva a protestar contra a realização, na cidade, de um evento de grande significação, como a reunião do G8. Tampouco em Miami os policiais tinham qualquer ideia aproveitável sobre os protestos contra o ALCA. Antes das manifestações, os policiais falavam sobre “táticas de Seattle” que seriam usadas pelos manifestantes em Miami, que envolviam coquetéis Molotov, porretes, pistolas d’água carregadas com urina ou ácido, e perigosos estilingues que disparariam bolas de aço ou projéteis maiores”. São praticamente as mesmas palavras que se ouviram da polícia de New York, a qual, durante a Convenção Nacional dos Republicanos em 2004, alertava para a presença, na Convenção, de “militantes treinados em técnicas de sequestro, produção de bombas de fabricação caseira e de munição artesanal de vários tipos”.

Dado que a imprensa-empresa nos EUA é sempre absolutamente reverente, quando se trata de justificar violências praticadas pela polícia (até, pelo menos, que jornalistas comecem também a apanhar da polícia ou são feridos à bala por policiais), a promoção de mitos como os “sacos de urina e fezes atirados contra os policiais” por manifestantes e agitadores é recurso útil, que dá cobertura aos policiais quando se põem a prender cidadãos preventivamente, nas semanas que antecedem eventos em relação aos quais a polícia teme que haja protestos de rua. Os “centros de fusão” produzem e distribuem informação sobre a vida pessoal dos ativistas. Alguns desses cidadãos já tiveram seus nomes publicados na imprensa, associados à ameaça de violência em manifestações que a polícia prevê que aconteçam durante a reunião do G8-OTAN, em maio, em Chicago. É também recurso de que a polícia se serve para intimidar outras pessoas menos habituadas a participar de manifestações públicas, por mais que desejem engajar-se nos protestos.

O jornal Chicago Sun-Times oferece hoje uma prévia da operação de demonizar e apresentar como agitadores perigosos quem se manifeste contra os encontros do G8-OTAN; e, simultaneamente, também da operação de apresentar os próprios policiais como “salvadores” dos encontros G8-OTAN. 

Os escudos “à prova de urina e fezes” são boa amostra da quantidade de informação distorcida e de desinformação, em “declarações” de funcionários da prefeitura de Chicago, oficiais de polícia, empresários e líderes políticos, que será apresentada à opinião pública como informação verdadeira e confiável. 

Ironicamente, tanta desinformação pode acabar por prejudicar, em primeiro lugar, o próprio prefeito Emanuel.

Estimulados e alimentados pela atual onda de desinformação e de demonização “preventiva” dos manifestantes e dos protestos esperados para maio em Chicago, muitos já dizem que as autoridades jamais deveriam ter concordado com a ideia de realizar na cidade o encontro do G8-OTAN – que deixará a população exposta “a protestos violentos”. Moradores já reclamam do custo de organizar a reunião e do alto risco de “danos às propriedades” (outra ameaça que a polícia não se cansa de repetir, para justificar as compras e as medidas de violência “preventiva” em curso).

O que o prefeito esperava ganhar em prestígio e honra, por Chicago hospedar a reunião do G8-OTAN em maio, pode rapidamente cair abaixo de zero. 



Notas dos tradutores
[1] 14/2/2012, Chicago Sun Times, “City buys face shields to protect cops from G-8 protesters
[3] Orig. fusion center. São centros para concentração e partilha/distribuição de informações de segurança, a maioria dos quais foram criados por projeto conjunto entre o Departamento Nacional de Segurança Interna e o Departamento de Justiça dos EUA, entre 2003 e 2007.  

2 comentários:

  1. Esses cabras não sabem de nada, bom é OVO podre, é tão destruidor quanto um EXOCET, o cabra fraqueja, perde as vista, muda até de cor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quando fazia passeatas em Osasco na década de 1960 via pessoas jogarem cal extinta na polícia com bisnagas de carnaval, aquelas de espremer, para dificultar a visão dos meganhas; . A cal era "roubada" nas obras da vizinhança. Tinha lá o seu efeito!
      Abraço
      Castor

      Excluir

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.