quinta-feira, 14 de junho de 2012

Alexis Tsipras: “Manteremos a Grécia na Eurozona”


12/6/2012, *Alexis Tsipras, Financial Times, Londres
Traduzidopelo pessoal da Vila Vudu


Alexis Tsipras
Para que não reste qualquer dúvida: nosso movimento – Syriza – compromete-se a manter a Grécia na eurozona.

O presidente Barack Obama acertou, quando disse, 6ª-feira passada: “Agora, faremos todo o possível para crescer, ao mesmo tempo em que nos engajamos num plano de longo prazo para estabilizar nossa dívida e nossos déficits, e começamos a forçá-los para baixo, de modo sensível, continuado”. O mesmo se aplica à Grécia. A necessidade de dar à Grécia uma chance de crescimento real e um novo futuro é hoje mais amplamente reconhecida do que jamais antes.

Creio firmemente que receberemos um claro aval democrático do povo da República Helênica, no próximo domingo. Com esse aval, entraremos em ação imediatamente para por fim à corrupção e às ineficiências dos sistemas político e regulatórios que devastam nossa economia há décadas. O povo grego também espera que assumamos imediatamente plena responsabilidade por tirar o país da crescente crise humanitária que nos assola.

A Coalizão Syriza é hoje, na Grécia, o único movimento político que pode oferecer estabilidade econômica, social e política ao nosso país. A estabilização da Grécia, no curto prazo, trará benefícios para a Eurozona, num momento crítico na evolução da moeda única. Se não alterarmos nosso rumo, a austeridade, ela sim, acabará por nos jogar para fora do euro.

Coalizão Syriza - Logo
Só a Coalizão Syriza pode garantir a estabilidade grega, porque não temos de carregar a pesada carga política dos partidos do establishment que arrastaram a Grécia até a beira da ruína. Por isso os eleitores apoiam nosso compromisso de salvar nosso país da destruição. Veremos a Grécia seguir nova trilha rumo ao desenvolvimento, com governo transparente. Uma Grécia renovada contribuirá para dar novas bases a uma Europa mais solidamente unificada. Os acontecimentos do fim de semana na Espanha confirmam que a crise é pan-europeia, e o modo como vem sendo conduzida até agora absolutamente não produziu qualquer bom resultado.

O povo grego quer substituir o fracassado Memorando de Entendimento (assinado em março com a União Europeia e o FMI), por um “plano nacional para reconstrução e crescimento”. É indispensável fazê-lo, para, simultaneamente, impedir que se alastre a crise humanitária na Grécia e salvar a moeda comum.

Os problemas fiscais sistêmicos da Grécia são, em larga parte, problema de não haver recursos públicos. Milhões em isenções de impostos e renúncia fiscal concedidos por governos anteriores para favorecer alguns interesses especiais, somados a impostos mal distribuídos sobre a renda pessoal e o capital, explicam grande parte do problema. E os problemas de arrecadação ineficiente explicam outra parte.

Segundo Eurostat, a Grécia está 4% abaixo da média da eurozona na relação recursos públicos/PIB. O sistema político bipartidário desperdiçou décadas ignorando, para sua conveniência, a grave necessidade de promover reforma fiscal profunda e efetiva. Concentrou-se em esforços para arrancar impostos de uma única fonte, limitada e exaurível: as famílias de renda média e baixa.

Nos termos do nosso plano de reconstrução e crescimento, a Coalizão Syriza compromete-se a seguir um programa de estabilização fiscal pragmático e socialmente justo. A estrutura desse programa implica estabilizar o gasto público em aproximadamente 44% do PIB e reorientar os gastos públicos para que sejam socialmente mais justos; aumentar a arrecadação com impostos diretos que acompanhem os níveis médios na Eurozona (cerca de mais de 4% do PIB), num período de quatro anos; e reformar o regime de impostos de modo a equalizar a riqueza e a renda de todos os cidadãos; e distribuir equitativamente a carga tributária.

A  Troika (FMI, BCE e CE)

Continua a faltar transparência financeira, mesmo que os bancos gregos sejam recapitalizados com empréstimos recebidos da Troika (União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu). Garantiremos que os bancos viáveis sejam recapitalizados de modo transparente e compatível com o interesse público. Só assim será possível garantir que todo o sistema financeiro recupere plena estabilidade.

Arthur Miller escreveu que “uma era pode ser considerada acabada, quando se esgotaram todas as suas ilusões básicas”. A ilusão básica de bom governo na Grécia sob o antigo regime de dois partido esgotou-se. O sistema velho é hoje absolutamente incapaz de assegurar que a Grécia volte a crescer e possa integrar-se plenamente à Eurozona.

No domingo, começaremos a construir novos tempos de crescimento e prosperidade. Segunda-feira, a Grécia entra em uma nova era.

*O autor deste artigo é candidato a presidente  da Grécia pela Coalizão Syriza, principal grupo da atual oposição grega.


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