domingo, 24 de junho de 2012

Israel: “Fora os sudaneses! Que venham os chineses!”


A agenda oculta do ministro do Interior de Israel, do governo de Netanyahu

13/6/2012, Assaf Adiv, Haaretz, Israel

Eli Yishai's hidden agenda: Sudanese out, Chinese in

Traduzido pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu

Ver também:
Assaf Adiv
Por trás da demagogia do ministro do Interior de Israel o que há é tentativa de ajudar as empresas construtoras israelenses, substituindo os africanos por mão de obra mais lucrativa.

O ministro do Interior de Israel, Eli Yishai – filho de família que emigrou da Tunísia para a Palestina e Líder Supremo do Partido Sefardita Shaas, de judeus fundamentalistas – tem-se imposto como principal porta-voz de uma campanha nacional para expulsar estrangeiros de Israel. Mas, ao mesmo tempo, aprovou emendas a acordos com a China, a Moldávia e Sri Lanka, pelas quais dá luz verde à entrada de mais trabalhadores estrangeiros em Israel, segundo matéria assinada por Ofer Petersburg publicada no diário Yedioth Ahronoth.

Eli Yishai
Que ninguém se engane: as empresas construtoras e de importação de mão de obra pressionam, e o ministro israelense obedece. No auge das manifestações por justiça social em Israel, no verão passado, e com aprovação de Yishai, o governo autorizou a entrada em Israel de 6.800 operários estrangeiros para trabalhar na construção civil. Só o ministério das Finanças opôs-se ao arranjo e exigiu garantias de que os operários não seriam importados de outros países (da China, por exemplo) nos quais os operários têm de pagar taxas aos contratantes intermediários – que, em alguns casos, alcançam milhares de dólares por pessoa. Resultado da objeção do ministério das Finanças, ficou acertado que os trabalhadores só seriam importados da Bulgária, mediante acordo direto entre os dois governos, sem intermediação de agências privadas de recrutamento de mão de obra.

Parece ótimo, não parece? Parece. Mas não é, porque as empresas construtoras e as agências de importação de mão de obra a elas ligadas burlaram o acordo que, até agora, só foi usado para trazer 60 operários da Bulgária para Israel. Apesar de não usar os meios legais que lhe foram facultados, a Associação de Empresas Construtoras em Israel continuou a “exigir” que se importassem mais trabalhadores para a construção civil. Dizem que hoje apenas 2.500 trabalhadores importados trabalham na construção civil em Israel, apesar de o programa oficial que garante vistos a trabalhadores estrangeiros autorizar a contratação de até 8.000 operários estrangeiros para a construção civil.

Por que as construtoras israelenses preferem importar operários chineses? Em poucas palavras: porque a importação de operários chineses é importante fonte de lucros para as construtoras. Um operário chinês pagará $20 mil dólares só para obter o visto de trabalho em Israel; os búlgaros podem entrar em Israel sem nada pagar. Um cálculo matemático simples mostra que importar 6 mil trabalhadores chineses “autoriza” as empresas construtoras israelenses e as empresas importadoras de mão de obra a elas associadas a embolsar 120 milhões de dólares, antes mesmo de um único operário imigrado ter posto a mão no primeiro bloco de concreto.

Família sudanesa expulsa de Israel
Desde 2002, os economistas concordam em que esse massivo influxo de mão de obra estrangeira na construção civil e na agricultura em Israel faz aumentar o desemprego nos segmentos mais pobres da população israelense – na vasta maioria, árabe-israelense. Os 26 mil operários tailandeses empregados na agricultura israelense tiraram os empregos de milhares de mulheres árabes, entre as quais a taxa de desemprego alcança hoje 75%.

Nada disso tira o sono dos empresários israelenses da construção civil, que impõem seus interesses econômicos ocultos, disfarçados em discursos sobre “escassez de mão de obra”. Dizem que a escassez de mão de obra fará aumentar o custo da moradia em Israel. Seu lobby chantageia o governo e suborna funcionários públicos. Cada vez com mais frequência, o lobby da construção civil em Israel consegue legislar o quanto queira, sempre a favor dos próprios interesses.

No verão passado, centenas de milhares de israelenses foram às ruas, protestar, precisamente, contra esse tipo de atitude – e a inaceitável chantagem a que o capital submete o governo de Israel.

Sudaneses e apoiadores protestam contra deportação em Israel
Mas o que o governo faz é uma coisa. A realidade é outra. Ao mesmo tempo em que Yishai e seus parceiros da coalizão governante em Israel dedicam-se a discursos de demagogia e racismo, os mesmos judeus fundamentalistas instalaram uma porta giratória pela qual podem importar e deportar trabalhadores estrangeiros.

Em vez de importar mais trabalhadores estrangeiros desnecessários em Israel e incitar a opinião pública com propaganda racista, cabe ao governo de Netanyahu trabalhar com seriedade a favor dos operários árabe-israelenses e israelenses mais pobres, em vez de explorar do modo mais sórdido, além dos israelenses pobres, também os pobres de outras regiões.

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