quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Nova agenda de Obama para o Oriente Médio


15/11/2012, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Lembrado na Vila Vudu: E no mesmo dia – não por acaso – Israel volta a bombardear Gaza. Israel é um câncer no mundo [1].


Na primeira conferência de imprensa em Washington, depois da reeleição, o presidente Barack Obama reiterou, na 4ª-feira, que sua “máxima prioridade” será a recuperação da economia dos EUA – “empregos e crescimento”. As únicas questões de política externa lembradas foram o problema do Irã e a Síria. 


Para o problema do Irã, Obama destacou enfaticamente uma solução diplomática. A fórmula oficial é a seguinte:

Tem de haver um modo pelo qual o Irã possa beneficiar-se dos usos pacíficos da energia nuclear e, ao mesmo tempo, satisfazer suas obrigações internacionais e dar garantias claras à comunidade internacional de que não trabalham para construir arma nuclear.

Parece que, afinal, o Irã será autorizado a fazer o baixo enriquecimento de urânio, sob estrito controle pela Agência Internacional de Energia Atômica? É. Parece que sim. Mais importante, Obama confirmou sua intenção de “encaminhar movimento forte, nos próximos meses, para ver se conseguimos abrir um diálogo” entre os EUA e o Irã “para ver se, afinal, resolvemos essa história”. 

Bravo! Obama disse que cabe ao Irã “dar o passo decisivo” [para aceitar a oferta de diálogo dos EUA]. Deu sinais muito claros de que fazia o possível para não manifestar qualquer sentimento de coerção ou de imposição. Falou em tom muito visivelmente conciliatório, destacando que os EUA não se prenderão em “detalhes ou protocolos diplomáticos”, no trabalho para construir conversações diretas com o Teerã, e que, “se o Irã quiser mesmo, seriamente, resolver tudo isso, haverá condições reais para resolver”. 

Sobre a Síria, Obama disse que os EUA conversarão com o grupo-guarda-chuva das oposições que foi formado em Doha no final de semena e que o considera “representante legítimo das aspirações do povo sírio”, mas que Washington “ainda não está preparada para reconhecer aquele grupo como alguma espécie de governo no exílio”, apesar de vê-lo como “grupo representativo de base ampla”. 

Explicou:

Uma das questões sobre as quais continuaremos a pressionar é assegurar que aquela oposição trabalhe, de fato, a favor de uma Síria democráticainclusiva e moderada. Já vimos elementos extremistas que se infiltram na oposição, e uma das coisas contra as quais temos de nos precaver — sobretudo se se começa a falar sobre armar grupos da oposição — é não estarmos, nós mesmos, a entregar armas em mãos de grupos que podem atacar os EUA, ou Israel, ou engajar-se em ações que agridam nossa própria segurança nacional. [Negritos meus.]

Assim se vê, afinal, que, sim, o assassinato do embaixador Christopher Stevens em Benghazi foi, mesmo, momento de virada definitória na estratégia dos EUA para o Oriente Médio. Obama disse claramente que os EUA estão longe de decidir armar grupos da oposição síria.

Essa fala de Obama deve ter ficado entalada em muitas gargantas em Riad, Doha e Ancara. Interessante, também, que Obama não endossou o entusiasmo “bélico” manifestado por Grã-Bretanha e França. Obama disse, exatamente, que:

... os EUA querem garantir que só encorajaremos elementos da oposição que se comprometam com a moderação, com o respeito aos direitos humanos e que queiram trabalhar cooperativamente conosco, no longo prazo. [Negritos meus.]

Evidentemente, as repetidas referências que Obama fez a uma “transição inclusiva” na Síria serão bem claramente ouvidas e anotadas em Moscou e Pequim. A transcrição da fala de Obama na conferência de imprensa (vídeo acima) pode ser lida em: “Remarks by the President in a News Conference [em inglês].

MK Bhadrakumar*foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistãoe Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.


Nota da redecastorphoto:

[1] Irã chama Israel de “tumor cancerígeno” (Yahoo notícias em 17/8/2012)

Várias manifestações marcaram o dia Al-Quds, que em árabe significa Jerusalém, e é realizado na última sexta-feira do mês sagrado de jejum dos muçulmanos, o Ramadã.Em Gaza, nos Territórios Palestinos, centenas pessoas protestaram. A manifestação mais forte veio do Irã, onde o presidente Mahmud Ahmadinejad afirmou que o "tumor cancerígeno" de Israel vai desaparecer em breve.Ahmadinejad disse que os países da região vão acabar em breve com a presença dos ‘usurpadores sionistas na terra Palestina’.Pouco depois, o governo americano reagiu, considerando "chocantes" e "odiosas" as declarações do presidente iraniano.---Gaza, Territórios palestinos, 17 de agosto de 2012. FONTE: AFPTV- IMAGENS DA MANIFESTAÇÃO

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