quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Pepe Escobar: “Barry Obama, outra vez”


8/11/2012, Pepe Escobar, Asia Times Online - US PRESIDENTIAL ELECTION
Traduzido  pelo pessoal da Vila Vudu


Pepe Escobar
LAS VEGAS – É, ele conseguiu. Com ajuda da demografia, do corpo a corpo, de arrancar os eleitores de dentro de casa, da campanha de telefonemas diretos aos eleitores, apesar dos temores de que os votos dos negros e hispânicos que votaram antecipadamente em Ohio e na Flórida fossem suprimidos, e com mais de 55% do eleitorado feminino a seu favor, Barack Obama ganha seu segundo mandato para (re)projetar, pelo menos, alguma amostra do evanescido sonho americano, num país, profunda, gravemente dividido (os votos populares virtualmente empatados em 49%, e sem falar dos 90 milhões de norte-americanos que sequer se deram o trabalho de votar).

Nas palavras do Big O: Here I am, baby [Cá estou, baby] (introdução de Stevie Wonder [1]); agora, é só questão de “aperfeiçoar nossa união”, “os píncaros da esperança”; “uma família americana como uma nação e um povo”, “o melhor ainda está por vir” [2]. Trata-se de oportunidades iguais; de um “laço comum”; “se você tentar, você consegue” e de “esperança”. Tudo outra vez. Mas dessa vez, para valer? Será que pega?

Empire State azul
A CNN pintou o Empire State de azul. Histeria em massa no quartel-general da campanha, em Chicago; mas, nos confortáveis intestinos com ar condicionado do cassino Aria em Vegas, não se ouviu rigorosamente festa alguma. O pessoal que participa do campeonato de pôquer (US$100 a entrada, mais $25 para apostar nas megatelas HD do livro Race and Sports) estava mais interessado em apostar nos jogos de futebol da NFL, em corridas de cavalos e até na distante Liga dos Campeões da Europa.

Quando o sol se punha em Vegas, já era evidente que os britânicos é que entendem de apostas. Betfair indicava Romney com apenas 15% de chances de vitória (os britânicos já o enterravam, àquela hora, cadáver do tipo 9/1).

Se essa eleição norte-americana foi um cassino multibilionário operado pelas duas campanhas, o negócio original e às veras, em Vegas, dá sinais de andar mal das pernas. O cassino Aria esteve virtualmente deserto durante toda a tarde e o início da noite, hora local, quando todo o suspense concentrava-se na Flórida – até que as redes finalmente projetaram a vitória de Obama em Ohio e bateram o martelo.

Visão impressionante, andando por ali, por aquele cemitério iluminado de máquinas solitárias. Uma Roda da Fortuna oferecendo mais de $289 mil dólares. Uma Progressive oferecendo mais de $1,2 milhão. Uma loteria Megabucks oferecendo bons $16 milhões (Double Diamonds, alguém se interessa?) E até uma Progressive modesta – cada jogada a 1 cent – oferecendo nada desprezíveis $11 mil dólares. E ninguém jogando. Ninguém. Nada. Exceto, mais para o final do dia, é claro, um lento influxo de chineses fanáticos, interessados em conquistar as mesas de Blackjack. A guerra comercial/monetária que Mitt declarara contra o Império do Meio, afinal de contas, jaz afogada nas ondas do Pacífico Asiático.

O Inferno dos Despejos
Cassino deserto é sinal infalível de economia em dificuldades graves. Obama levou Nevada – mas os eleitores, sim, se mostraram bastante relutantes. Nevada é O Inferno dos Despejos – ainda mais e maior que no Arizona (onde Romney venceu) ou no Novo México (onde Obama venceu). O desemprego chegou oficialmente aos 12%, mas moradores dizem que, em Las Vegas, já ultrapassa os 20%. Bastou afastar-me alguns quarteirões da Strip, para ver quarteirões e quarteirões de casas inacabadas ou semidestruídas, desertas, como cadáveres ardendo ao sol. Pelo menos 7% dos eleitores de Nevada são mórmons. Não bastaram, para Romney. Nem o grupo de trabalhadores de cassinos que votaram em Obama em 2008 e que na 3ª-feira, no último momento, decidiram votar em Romney.

E cojones, meu irmão?

A demografia de Nevada foi crucial – além da campanha perfeita em campo, para Obama. Desde 2008, quando Obama venceu no estado pela primeira vez, a população latina aumentou nada menos que 39%. A maioria vota com os Democratas. O fato de a campanha de Romney jamais ter conseguido avançar aí, sequer um palmo, em situação de economia ultradeprimida, é prova provada de suprema incompetência. Os 71% de latinos pró-Obama, de fato, enviaram mensagem portentosa aos Republicanos: “Não se metam conosco. Vocês não sabem do que se trata, mas, por aqui, nós temos cojones”.

Pesquisa informal que esse repórter errante fez ao longo de mais de 9.500 km, em seis estados do sudoeste dos EUA, já alertava sobre o que viria: Romney, conforme o previsto, levou Utah e Arizona (estado que, em breve, o voto latino pintará de azul). Obama levou California, Nevada, Colorado e Novo México. A campanha de Romney fez de tudo para desqualificar e enfraquecer os eleitores pobres, negros, hispânicos e os estudantes – todos apresentados como parte dos 47%, no mesmo saco, com soldados, aposentados e desempregados – em todos os estados, inclusive nesses. E falhou miseravelmente. E como não falharia? Romney simplesmente demitiu da vida civil e pública, 47% da população dos EUA.

Mitt Romney imita Genghis Khan
Além do mais, Mitt “Pastas Cheias de Mulheres” Romney atacou feito Genghis Khan (perdoe, Genghis, a comparação) tudo: do aborto à imigração, da mudança climática (não existe, é fraude) à pesquisa com células-tronco. E, sobretudo, cuidou de preservar o Santo Graal, a qualquer custo: os tais cortes de impostos à moda Bush.

Na política exterior, Romney antagonizaria a Rússia e iniciaria guerra comercial/monetária contra a China, logo no dia da posse – sem falar em começar imediatamente a bombardear, bombardear, bombardear o Irã. Se se considera a espantosa ignorância de Romney do o mundo, entende-se que se tenha tornado presa fácil para medíocres de mediocridade de dimensões cósmicas como Dan Senor ou John Bolton. Que se afundem no esquecimento. – E vale também para Karl Rove.

Assim sendo... E agora? Num mundo perfeito, desejar é poder: Obama fará o máximo para construir um país que comece a andar na direção de mais tolerância, justiça social e igualdade. Não é garantido que consiga. Nem que tente. Longe disso.

Quanto ao mundo em grande escala, só perguntas: Obama afinal terá cojones para realmente pôr fim à tragédia dos palestinos? Para mostrar o porrete – e sem cenouras – àquelas petromonarquias antidemocráticas do Golfo Persa? Para engajar-se em “reset” que efetivamente signifique “reset” com os russos? Repensará as suas várias “guerras de sombras”? Deixará de converter o tal “pivô” na direção da Ásia em preâmbulo de guerra contra a China? Chegará a um acordo com o Irã?

Fato é, caro Barry, que, agora, as desculpas acabaram-se. Trate de pôr em ação os seus cojones.



Notas dos tradutores

[1] Pode ser visto/ouvido a seguir:


[2] Orig. The Best Is Yet To Come. É verso que dá título a uma canção gravada por Frank Sinatra. Pode ser vista/ouvida a seguir:


Pode-se também obter a tradução da letra em: O melhor ainda está por vir

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