terça-feira, 21 de maio de 2013

Palestinos derrubam parte do muro do apartheid


20/5/2013, Linah Alsaafin. Al-Monitor Palestine Pulse
 Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Linah Alsaafin
Na 6ª-feira, 16/5, à noite, um grupo de vinte palestinos abriram uma passagem no muro do apartheid, no posto de controle de Abu Dis, entre as vilas de al-Ezzariya e Abu Dis, e derrubaram parte do muro, para chegar aos arredores de Ras il-Amood, em Jerusalém.

A reação do exército de Israel foi, previsivelmente, frenética e desproporcionada. Atiraram com munição real contra os palestinos, além de bombas de som e granadas de choque. O buraco no muro foi ampliado para 4m, e, segundo Salah Khawaja, porta-voz da Ministério do Estado da Autoridade Palestina para Questões das Colônias e Muro do Apartheid, pelo menos três pessoas entraram em Jerusalém e chegaram à Mesquita al-Aqsa para as orações da tarde.

Abu Dis e Ras il-Amood sempre foram cidades vizinhas, antes de serem separadas pelo Muro do Apartheid, que separou vizinhos e parentes e multiplicou as distâncias e as dificuldades para ir de uma vila à outra.

Um jovem palestino escala o muro israelense do apartheid, durante confronto com o exército de Israel, no Dia da Nakba, 15/5/2013, próximo ao posto de controle de Qalandia, nos arredores de Ramallah, Cisjordânia. (Foto de Uriel Sinai/Getty Images)
A derrubada de parte do muro vem na sequência de várias manifestações contra a ocupação israelense, para marcar os 65 anos da ocupação da Palestina para criar Israel, o Dia da Nakba [a Catástrofe], que se completaram dia 15/5. As manifestações prosseguirão durante o verão, segundo Khawaja, e estarão focadas em protestos contra a judaicização de Jerusalém, que Israel tenta conseguir, mediante expulsão de moradores, demolição de casas e assalto, para ocupação, de todas as terras palestinas dos arredores.

De pouco nos servem as negociações, em que não confiamos. Dependemos só de nós mesmos para pressionar a comunidade internacional a tomar medidas concretas, para que Israel seja obrigada a responder pelo que faz  – disse Khawaja a esse Al-Monitor. Em 2004, a Corte Internacional de Justiça definiu o muro do apartheid como construção ilegal, a ser imediatamente demolida. Até agora, não se viu qualquer ação para fazer valer a sentença daquela alta corte. Cabe a nós aplicar a decisão da Corte Internacional.

Yasin Sbeih, residente no campo de refugiados de Shuafat, manifestou seu integral apoio à ação para demolir o muro.

O que aconteceu aqui na 6ª-feira à noite foi excelente. É ação a ser repetida em todos os pontos onde haja muro – disse ele – a tática pode ser efetiva para forçar o exército ocupante a dispersar esforços em várias frentes. Significa também que os palestinos começam a agir para derrubar o muro do apartheid. É ação a ser empreendida em vários pontos, para chamar a atenção para a ilegalidade de todos os muros israelenses, para evidenciar que os muros em nada melhoram a “segurança” de Israel, como alegam. E mostrar que o muro só tem finalidades discriminatórias.

Desde que se divulgaram pela primeira vez os planos para construir uma muralha em torno de Jerusalém, inúmeros analistas têm repetido que a barreira visa exclusivamente a controlar o crescimento demográfico dos palestinos que vivem na cidade – que, em 2012, já eram, pelo menos, 38% da população de Jerusalém, mais de 200 mil pessoas – assegurando espaço exclusivo para colonos israelenses.

Resultado de roubo de terras palestinas pelos judeus

Está previsto que o muro acompanhe todas as fronteiras municipais de Jerusalém – fronteiras que o governo israelense inventou e anexou, 17 dias depois da ocupação de Jerusalém leste em 1967, movimento jamais reconhecido pela lei internacional. O traçado do muro, que não passa de mecanismo para roubo de terras palestinas, inclui os prédios da colônia Gush Etzion, no sul; de Giv’at Ze’ev ao norte; e de Ma’ale Adumim a leste, todas essas colônias exclusivas para judeus, cercando, no total, 164 quilômetros quadrados de terra palestina na Cisjordânia. O muro é construído próximo da região de Jerusalém leste, que fica separada, o que, para os israelenses, garantiria a separação intencional entre os colonos judeus e os habitantes originais palestinos.

Cerca de 60 mil palestinos em várias áreas, com documentos de identidade azuis, de residentes em Jerusalém, estão impedidos de chegar diretamente a Jerusalém, e são obrigados a passar por um posto de controle do exército de Israel, diariamente, para chegarem a escolas e aos respectivos locais de trabalho. É o que acontece com os palestinos que vivem no campo de refugiados Shuafat, em Ras Khamis e nas vilas de Semiramis, Kufr Aqab, al-Ezzariyeh e Abu Dis.

Os enclaves que ficaram na área excluída pelo muro do apartheid não recebem praticamente nenhum serviço público básico. Estão sob jurisdição da prefeitura de Jerusalém controlada por Israel, que os abandonou completamente; e a Autoridade Palestina é proibida, pelo Acordo de Oslo, de entrar nessas áreas. Consequentemente, não é raro ver ali ruas tomadas completamente por lixo, a infraestrutura urbana está destruída, as estradas são praticamente intransitáveis e há alta incidência de crimes de todo o tipo.

Em resumo, nenhuma autoridade local se interessa por garantir serviços municipais básicos à população palestina. Daí resultou a privatização dos serviços públicos por várias empresas e organizações não-governamentais. Mesmo sem receber qualquer tipo de serviço de qualidade satisfatória, os palestinos que ali residem são obrigados a pagar impostos municipais, sob pena de perderem os documentos de cidadania jerusalemita, o que limitaria ainda mais seus direitos de ir e vir e cancelaria o direito, que ainda têm, de estudar e trabalhar em Jerusalém.

A passagem escavada no muro, em Abu Dis, ainda está aberta. Mas o exército israelense já instalou ali seus jipes blindados e soldados armados, até que o governo de Israel reconstrua o muro.

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